O "olhar insurreto" do autor das crônicas de Ainda temos tempo (em outra definição do diretor Reinchenbach, que assina a apresentação do livro) é exercitado em dezenas de viagens nada convencionais pelos quatro cantos do planeta, sempre sob o pretexto de buscar filmes interessantes para exibir na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, evento criado por ele há exatos trinta anos. O lançamento de Ainda temos tempo marca a estréia do homem de cinema Leon Cakoff como autor e enfeixa 15 crônicas. Os relatos incluem curiosas passagens por estados de exceção, como a Tchecoslováquia sob a Cortina de Ferro; a Alemanha dos tempos da DDR; a Argentina sob a ditadura militar; a Polônia sob o burocratismo soviético; ou a Argélia do fundamentalismo islâmico em seus primórdios. Registram-se, ainda, encontros memoráveis do autor com personalidades como Luis Buñuel (no Festival de Cannes), ou Federico Fellini (nas locações de Ginger e Fred, na mítica Cinecittà). O resultado é um livro de crônicas, informal e informativo, cujo personagem principal, além da figura ímpar de Leon Cakoff é o cinema como resistência aos estados de exceção e, acima de tudo, como unificador de culturas, a despeito das diferenças locais. "Leon agiu politicamente usando os filmes como arma de defesa, atravessando a censura da ditadura, protegendo uma revolução mais profunda: a revolução permanente da inteligência e da beleza independente das imagens." (DO TEXTO DE QUARTA CAPA DE ARNALDO JABOR)