Os termos de bem viver foram largamente utilizados como meio de saber/poder durante as últimas décadas do período imperial brasileiro, servindo como um instrumento discursivo produtor de identidades, principalmente a do "vadio". O discurso da vadiagem, nesse contexto, ganha então uma singularidade, pois não diz respeito à exclusão do indivíduo tipificado, mas pelo contrário, refere-se à sua inclusão. Uma vez que o discurso pretendia construir uma adequação do indivíduo ao sistema de trabalho e à construção da unidade nacional, ou dizia respeito ao modo tradicional de vida que a elite queria eliminar, o instrumento disciplinar de termo de bem viver foi o corolário utilizado não somente pelo poder legal, mas por determinados membros da sociedade que se faziam representar em causa própria, "legislando em causa própria", no momento em que eles apropriam-se dos mecanismos jurídico-policiais para defender seus pequenos negócios ou causas. As contendas e as querelas familiares fazem com que vizinhos e amigos deixem de pertencer ao estritamente privado e ganhem o âmbito público e policial. Deste modo, a normatização do saber/poder é exercida em forma de "rede", passando toda a sociedade a ter o conhecimento do cotidiano da vida comum que é registrada em processos, dossiers, e finalmente, em arquivos que circulam pela sociedade são formas de uma rede hierárquica de saber chegando até aos olhos do Imperador D Pedro II.