Investigativa e sensível ao extremo, principalmente quando se trata de reviver e de reconstruir o passado de mulheres que deixaram algum tipo de contribuição para a história, Luzilá Gonçalves Ferreira, mais uma vez, escolhe figuras femininas como protagonistas de No tempo frágil das horas, seu novo romance. Antonia e Maria Amalia, representantes da decadente aristocracia pernambucana, são personagens apaixonadas, mas condenadas a uma interioridade monótona; e habituadas aquela rotina provinciana, sem a menor noção do quanto ela lhes é penosa e dilacerante. Passeando entre a história e a ficção, a partir de documentos, fotos, testamentos, e acontecimentos que a memória reteve, Luzilá, que sempre enfoca os temas do cotidiano de uma forma lírica, mergulhou no mais profundo da imaginação de suas personagens para tentar explicar como é tentar ser mulher, e construir uma existência própria, numa sociedade patriarcal, sem nenhuma preparação para enfrentar os problemas econômicos, a decadência do amor, a solidão espiritual.