Todos os povos têm seus próprios mitos a respeito de suas origens e da estrutura fundamental de sua existência. É claro que nenhum deles presenciou o que relatam nesses mitos. O sentido fundamental não é externo, mas interno: um retrato metafórico que relata a origem e a estrutura fundamental da consciência daquele povo dentro da situação geográfica, climática, histórica e moral (ethos, ou costumes sancionados coletivamente pelo grupo). Assim, os mitos não apresentam realidades exteriores. Ao contrário, apresentam simbolicamente a alma do povo. O mesmo pode ser dito de toda a criatividade humana, nos diversos campos em que ela se manifesta (arte, artesanato, invenção e cultura em geral). Tudo o que se cria externamente é, na verdade, um mito, ou seja, uma imagem da criação da consciência. As pequenas criações apresentam a criação da consciência individual; as criações mais grandiosas e participadas espelham a criação da consciência coletiva ou da própria alma do povo. Ambos os aspectos são abordados nesta obra de Marie-Louise von Franz, sem dúvida, de fascinante interesse tanto para o leitor entender a si mesmo como para situar-se dentro da história e da cultura do povo ao qual pertence.