"Vemos a sala de aula como um espaço multicultural em que estão presentes variadas formas de viver e de ver o mundo. Sob esse ponto de vista, seus agentes professores e alunos podem apresentar culturas e visões de mundo distintas, que podem ser compatíveis e complementares ou completamente distintas entre si, dificultando ou até mesmo impossibilitando o diálogo e, assim, a aprendizagem. No século XX, a partir dos anos 1990, é construído em torno do conhecimento científico um status de superioridade epistemológica em relação aos demais conhecimentos. Nessa mesma época pesquisadores e educadores passam a questionar a depreciação do saber popular e o cientificismo imperante. Diversos debates que daí surgem traduzem maneiras diferentes de alcançar um objetivo comum de tornar o ensino de ciências culturalmente mais sensível. É nesse sentido que escrevemos este livro, cuja proposta é apresentar o desenvolvimento de uma sequência didática (SD) sobre questões sociocientíficas suscitadas pelo Estatuto do Embrião projeto de lei que envolve o encontro de diversos conhecimentos e saberes e propicia a simulação de processos decisórios. A ênfase desta obra encontra-se na explicitação e no mapeamento dos processos de elaboração e de adequação da SD. O intuito principal é o desenvolvimento de metodologias que incentivem que as salas de aula se abram para o trabalho com as controvérsias que nos cercam cotidianamente. Calculamos podermos contribuir no que diz respeito ao apontamento de um caminho para o trabalho de temas controversos por meio de sequências didáticas e também por meio do método de análise de dados que desenvolvemos a partir da Teoria Ator-Rede para a identificação dos atores humanos e não humanos participantes da rede sociomaterial propiciada pela SD.