Quando se fala em body-piercing, o primeiro nome que vem à minha cabeça é sempre o do maluco chamado André Meyer. Não por ele ter feito os seis furos que eu tenho na cara. Mas por minha pessoa ser prova de que esse aborígene alucinado foi o pioneiro dessa modalidade primitivista de embelezamento estético por estas bandas. Tenho contato com isso desde os primórdios do movimento punk paulista, quando nós, desinformados garotos rebeldes, tentávamos em vão furar as bochechas e o septo com alfinetes de fralda. A primeira vez que eu vi um piercing de verdade foi no inverno de 1990, em Copenhagen, num squat chamado Ungdownshuset, onde uma linda garota punk de mãos encardidas cozinhou para nós do Ratos de Porão. Ela ostentava uma argola no lábio inferior e outra no antebraço esquerdo... fiquei impressionado com o efeito de sadomasoquismo sensual e agressivo que aqueles ornamentos mostravam. E pensei: EU PRECISO DISSO URGENTE!!! Depois disso, em 1993, ganhei de presente de aniversário um furo no nariz, quando fui apresentado ao meu amigo "bichô", na extinta TATTOO YOU do MARCO LEONI. Logo aquele sorriso de canibal sádico do André me cativou, e percebi que estava nas mãos de um profissional jamais visto, que entendia do assunto de joias, equipamentos e higiene... E sem dó, sem hesitar, na respiração, ele PLAU!!! Eu estava furado e feliz, ostentando uma pioneira argola na narina... Lendo Lindo de doer você, leigo ou não, entenderá como um cara sem perspectiva de vida, com coragem, perseverança e muita sorte se tornou o maior nome da body-art da América Latina. João Gordo