Lacan constrói os quatro discursos com quatro letras que são repartidas em quatro lugares. Essas letras que nomeia de matemas têm a mesma estrutura que as letras da álgebra, são letras que retira da operatória matemática introduzidas na perspectiva da psicanálise e, como sempre acontece com seu ensino, agradece ao campo do qual se vale, mas não deixa de devolver-lhe aquilo que a partir do nosso aparece como seu limite. Lacan diz: necessito dos matemas para que funcionem como balizas das quais possamos nos valer, para encontrarmos o mesmo. Se eu quero encontrar o discurso histérico vou encontrar sempre a mesma fórmula. Mas como em psicanálise as letras não definem uma relação biunívoca consigo mesmas, a letra A não representa a letra A, porque, se existe um A=A, o matemático diz que são os mesmos, mas o psicanalista diz: não, este A é um A que está antes do sinal de igual e este que vem após não é o mesmo, implica algo que é identico e algo que é identico e algo que é diferente, a repetição introduz uma diferença. Isto quer dizer que para nós a repetição de um significante já implica que são dois significantes. Se são dois, em nosso campo, significa que entre um e outro entra em jogo um hiato que chamamos de sujeito. É uma questão estrutural para nosso campo, que não renega a função do sujeito e sim a introduz no campo ciência: não existe um significante que signifique a si mesmo. Por isso, não há possibilidade de, ao dizermos os matemas - não digo quando os escrevemos -, dizê-los do mesmo modo, algo vai ser igual e algo diferente.