Um profeta que lê o passado Um verdadeiro adivinho literário é aquele que busca o futuro no passado, decifra o legado, desenterra autores acobreados pelo abandono, tendo como álibi unicamente a intuição. Nelson de Oliveira é um vidente das minorias, nenhum zé maria-vai-com-as-outras. Suas reflexões são passionais, arrebatadas, singulares. Dizem respeito a uma visão pessoal, provando atingir a impessoalidade da voz universal na mais ferrenha intimidade. A pureza intelectual, que o escritor caracteriza de ignorância, é sabedoria antecipada.Parodiando as listas dos maiores que aparecem no final e início de século, Nelson realiza um levantamento dos melhores esquecidos, o que justifica o título O século oculto da coletânea. Resgata Campos de Carvalho, que contou com apenas quatro pessoas em seu velório; Maura Lopes Cançado, sombra fértil de Lispector com O sofredor do ver; Rosário Fusco, agitador mineiro traduzido para a Itália e um dos fundadores da literatura fantástica brasileira; e José Agrippino de Paula, um tropicalista superior às sentenças de sua época. Além dele, quem desfruta de ousadia para apostar em azarões? Empenhar a reputação em fichas malditas na roleta histórica? Montar uma nova nau dos insensatos?