Este livro é resultado da exposição Circonjecturas Obras e instalações do artista paranaense Rafael Silveira que aconteceu de abril a maio de 2018 no Centro Cultural FIESP. São imagens que misturam botânica, tatuagem, circo e publicidade dos anos 1950 e que tiveram curadoria de Baixo Ribeiro.Até chegar aqui o leitor passou por flores, morangos, moscas, pássaros, aranhas, caveiras, chapéus, dentes, dentaduras, olhos, muitos olhos, coração... A abertura deste livro já deixa ver a voracidade onívora de Rafael Silveira por imagens, imagens/coisas, imagens aplicadas sobre bichos e objetos. Seus motivos e formas variam muito, podem ser delicados e ilustrativos, como as borboletas impressas em caixas de fósforos, flamingos caminhando na névoa, um pequeno folheto com uma fila de dentes, o dedo hiper-realista amputado. O mais interessante, o que o coloca em uma posição singular dentro da nossa cena contemporânea, é quando ele cria no sentido proposto pelo grande Huidobro, quando vai além do que está parado diante de nós, rodeando nossos olhos, operando metamorfoses, fusões e justaposições imprevistas entre imagens. Pode-se argumentar quanto à impropriedade do grande poeta por fazer uso do termo criar, de fato muito pesado, posto que coloca artistas como demiurgos. Nesse sentido valerá a formulação de Barthes sobre Giuseppe Arcimboldo, de resto um aparentado com Rafael, sua imaginação (de Arcimboldo) é propriamente poética: não cria os signos, combina-os e permuta-os, extravia-os o que faz exatamente o operário da língua. Agnaldo Farias