Ao ler Ombros caídos olhando para o inferno, de Constança Guimarães, o pensamento, incômodo porque instigante, de Arendt, pairou sobre a minha leitura. O machismo e a misoginia, como frutos da estrutura patriarcal, são tentáculos nos quais a banalidade do mal intumesce. No livro, gerações de mulheres são massacradas por único homem que, embora apareça como sujeito de um mal absoluto, só pode criar raízes devido à naturalização social da ideia de que o homem é superior à mulher. O mal absoluto só floresce porque socialmente ele é aceito, seja pela omissão do pai, seja pela conivência aterrorizada de outras mulheres, ou ainda pela galhofa criminosa dos companheiros de trabalho diante da violência. Não por acaso, este sujeito é denominado como O Delegado: ali está uma força repressora e violenta tutelada e fundamentada pelo Estado. [...]