O livro de Gabriel Pugliese é uma brisa refrescante no cenário da história das ciências no país e, de quebra, com boas contribuições sobre questões de gênero. Acostumados que estamos, eu mesma incluída, a obras mais sisudas sobre esse campo de estudos, nos deparamos com um olhar novo sobre como os objetos da ciência se comportam – no caso objetos no sentido estrito, isto é, aqui, o rádio. Além de uma instigante revisita a uma trajetória das mais importantes na história das ciências – não só a de Marie Curie como a de sua rede familiar – a pesquisa de Gabriel se dedica também a nos mostrar a resistência, quase no sentido psicanalítico, que o mundo material opõe aos pesquisadores – o que, sem levar mais longe a metáfora possível a extrair daí, nos dá bastante lenha para pensar. O caso recente do bóson deveria nos levar a refletir mais sobre nossas relações com esse universo no qual vivemos e do qual (ainda) pouco sabemos.No entanto, é difícil resistir à metáfora sobre o empreendimento de Marie Curie e o que Gabriel chama de ‘subversão do gênero’ – é como se as resistências materiais encontradas em sua pesquisa sobre a radioatividade correspondessem, de alguma maneira, às resistências encontradas por ela, como cientista mulher, no seu campo de estudos – e nas suas relações pessoais.