A grande contribuição do Estado de Bem-Estar para a ordem social moderna foi ter rearticulado, por intermédio dos seus estatutos de proteção, os significados do público e do privado, anteriormente separados pela difusão do imaginário liberal. Foi sob a égide desse Estado que o trabalho adquiriu um status público e, ao mesmo tempo, um espaço público com o advento do seguro social. Este, num certo sentido, transformou o significado liberal clássico da ideia de propriedade. Desde o seu advento, o seguro social adquiriu um destacado papel, guardando um profundo significado político e associativo que testemunhou o surgimento de uma forma específica de solidariedade. Além de trazer à luz algumas reflexões a respeito das relações que tipificaram o advento das proteções sociais no capitalismo, o principal objetivo deste livro é analisar o processo de construção histórica do Estado social no Brasil e no Chile através das suas instituições de seguro social. A emergência do seguro social em ambos os países, entre as décadas de 1920 e 1940, assumiu um aspecto transcendente, constituindo-se na gênese de um novo modo pragmático de se perceber os problemas da sociedade e de se fazer política, refazendo assim o social, em oposição às abstrações que marcaram o longo predomínio das instituições do liberalismo oligárquico. Enfim, num momento de desconstrução dos direitos sociais, este livro pretende resgatar as trajetórias desse processo de construção nos respectivos países, ressaltando não somente suas semelhanças, diferenças e contradições, mas, sobretudo, os seus legados civilizatórios para a constituição das solidariedades do mundo do trabalho.