Nas empresas inseridas em mercados competitivos, as relações de trabalho passaram por radicais mudanças: os trabalhadores deixaram de ser descartáveis e desqualificados (meras engrenagens das linhas de produção), para tornar-se trabalhadores qualificados e polivalentes (profissionais organizados em ilhas de trabalho). Ao operário clássico colarinho azul, indistinto em seu macacão sujo de graxa, peão que todos oprimiam e que quase tudo discriminava contrapôs-se uma nova espécie de operador, profissional sem uniforme, escolarizado e capacitado, portador de qualificações técnicas sujeitas à permanente reciclagem. Ao uso físico (destreza) que se fazia da força de trabalho do primeiro, opôs-se a utilização das faculdades mentais do segundo (proficiência). Todas essas transformações, no entanto, não resultaram de algum voluntarismo altruísta. Decorreram das inúmeras pressões que a cidadania organizada exerceu no cotidiano das empresas e das ruas. E o processo de intervenção política da sociedade civil veio testando as suas forças e veio redefinindo as relações capitalistas desde o período entre as duas guerras mundiais.