A questão de Sócrates levou-nos de Kierkegaard a Nietzsche. Não se trata de paralelismo nem de síntese. Se muitos investigam “Dionísio contra o Crucificado”, a polêmica não sairá aguada se tentarmos caminhos opostos. O Crucificado encontra Dionísio é um lema insólito. Kierkegaard nunca se identificaria sem mais com o Crucificado, mas a cruz funda sua perspectiva. Do encontro não se produz uma fusão de horizontes. Se Brandes pudesse apresentar Nietzsche a Kierkegaard, este apreciaria entabular longas conversações com o representante de Dionísio. Sairia a discutir com alguém que, para seu gáudio, tinha opiniões pessoais, convicções assumidas e não se contentava com citar opiniões. Já Nietzsche teria, diante do fenômeno Kierkegaard, uma reação ambivalente semelhante à que lhe provocava o “psicólogo” Dostoiévski.