A aparente distração e a ilusão de um suposto ganho levam pessoas às mesas de jogos. Algumas delas, movidas por impulsos diversos ou pela fuga de sofrimentos e frustrações, jamais se afastam dos ambientes que cultuam esse vício. Conheci pessoas que perderam fortunas herdadas ou construídas com o próprio trabalho, por não conseguirem abandonar o jogo. Sabemos a quantidade de suicídios provocados por grandes perdas em cassinos ou casas clandestinas de jogos. “O Jogador” é um texto de ficção e não se baseia em qualquer personagem real, mas que retrata a degradação e a perda de dignidade que podem decorrer do vício de jogar. No entanto, vai muito além do jogo de cartas, mostrando pessoas cujas atividades, inclusive profissionais, são verdadeiros jogos, nos quais se expõem a própria vida e a de outros que se deixam usar. A sociedade de pessoas que não “existem”, de “fantasmas” que ocupam vários postos sem estarem presentes em nenhum, está diante de nossos olhos. Só não enxerga quem é desinformado ou leva vantagem com sua “cegueira”. Condomínios de luxo abrigam pessoas que teoricamente não teriam como justificar a posse de uma casa simples em um bairro de classe média. Enfim, estamos todos caminhando pela vida, alguns tentando edificar uma sociedade melhor, e outras fazendo da existência um mero jogo. Quanto ao texto, a definição de se existem heróis ou quem são os vilões, fica para a interpretação do leitor, de acordo com seus conceitos e suas crenças.