Junto a uma árvore desfolhada, no meio de um descampado que talvez esteja em algum lugar da França, dois vagabundos, maltrapilhos mas pontuais, atendem dia após dia ao chamado de um certo senhor Godot, Godet ou Godin - que prima por não comparecer, supondo-se que tenha de fato marcado encontro. Dado este nó dramático, tão escrito que não permite peripécia, desfecho ou catars, a espera e a angústia de Vladimir e Estragon repetem-se ao infinito, ora como tragédia, ora como farsa, numa versão sinistra dos filmes de Hardy e Laurel, o Gordo e o Magro. Esta é a substância escassa de Esperando Godot, obra central de Samuel Beckett (1906-1989), o dramaturgo, romancista e poeta irlândes agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura de 1969. Escrita em francês, durante o admirável decêndio do pós-guerra que viu surgir o essencial de criação de Beckett (Esperando Godot, Fim de partida, mais a trilogia romanesca de Molloy, Malone morre e O inominável), a peça estreou em Paris, no ano de 1953, sob a direção do grande Roger Blin, e logo se afirmou como divisor de águas do teatro do século xx, como revolução de toda a estética teatral do Ocidente e, finalmente, como imagem da vida humana em tempos dificeis e num compasso de espera.