A crueldade é utilizada então para dizer o que Artaud buscava no teatro, e como teatro e vida para ele se fundem, podemos dizer que este poeta reivindica a crueldade na existência como a própria força de viver. E aqui é preciso atentar para o termo crueldade em seu sentido ampliado, posto que ele usa-o em sua acepção filosófica, retomando a origem etimológica da palavra. [...] Nessa perspectiva pensamos uma Cultura da Crueldade, exercida na vida e pela vida. Uma cultura que não se distancia da existência, mas que nela mesma se faz e refaz, corporificando as formas em constante estado de criação. É então munido com a crueldade latente que Artaud engendra uma nova ideia do teatro, do homem, capaz de produzir uma cultura viva, de forças. Seja na França, no palco ou fora dele, no México, junto aos índios tarahumaras, ou ainda nos manicômios pelos quais passou durante um longo período de internamento, Artaud resiste num constante processo de criação e recriação de si, de seu CsO, da existência de uma vida na arte, uma existência cruel. A Crueldade em Artaud será então transversalizada de modo que possamos compreender a cultura como uma manifestação da crueldade entendida como força, necessidade e urgência em possuir a vida.