Trabalho de etnografia histórica, o livro de Luís Felipe Sobral é um ensaio arrojado sobre a especificidade da performance no cinema, que amplia a formulação condensada de Walter Benjamim: o "ator cinematográfico típico só representa a si mesmo". Inspirado nos usos que Ginzburg faz do paradigma indiciário, Sobral reconstrói o itinerário de produção da persona cinematográfica de Bogart e mostra, a partir de um texto enxuto e muitíssimo bem escrito, que esta persona não se resume aos personagens que ele encarnou, tampouco se concentra apenas nele como ator. Resultado da união dessas duas pontas, ela se alicerça na "tensão dramática entre a indiferença aparente e a vulnerabilidade súbita". Dessa tensão emanavam a força de sua atuação e a masculinidade a ela associada.