Antes de se tornar o boêmio e cachaceiro Quincas Berro Dágua, festejado por malandros e prostitutas das velhas ladeiras de Salvador, Joaquim Soares da Cunha foi um pai de família respeitável, "exemplar funcionário da Mesa de Rendas Estadual, de passo medido, barba escanhoada, paletó negro de alpaca, pasta sob o braço". A virada existencial, que levou a família a renegá-lo, deu-se aos cinquenta anos de idade. Se um homem teve duas vidas tão contrastadas, nada mais justo que tenha também duas mortes. É esse o duplo óbito que Jorge Amado narra nesta novela deliciosa, que tangencia o fantástico sem perder o olhar aguçado para as particularidades da sociedade baiana. Publicada originalmente na revista Senhor, em 1959, a novela A morte e a morte de Quincas Berro Dágua se destaca pela prosa inebriante, que ganha uma atmosfera onírica, sem ser possível distinguir o que é fato e o que é delírio etílico.