Quem busca uma cura faz qual caminho? E se a ferida não for aparente? Um livro de poemas trata o quê? Quer dizer, importa se são ou não poemas? Aliás, o que é curar? Nicolas Behr entende que é inútil querer eliminar a agonia, o choro, a melancolia, a ansiedade, a morte. Em O itinerário do curativo, o poeta propõe cuidar da obsessão, da paranoia, dos fantasmas, da ausência do pai, usando a palavra – dialogando com certa técnica psicanalítica para, talvez, diminuir a dor. Se a palavra aqui obterá o estatuto de poema, por vezes, pouco interessa. O livro também são questionamentos do que se pode considerar poético: “nem toda tentativa/ é poema”. Mas um traço fundamental da escrita de Nicolas é a provocação ambivalente. Numa espécie de livre associação textual, vai acrescentando contrários ao que já disse: “como é possível viver/ sem escrever poemas?”, “o que faz o corpo/ desejar tanto?”, “viver deveria bastar”, “é a neurose/ procurando um sentido”.