Chove sem parar em Tremedal. Há muitos anos. E o clima ganha um curioso estatuto de personagem neste romance inaugural de Ricardo Prado, sobre uma cidade dominada pela chuva, La Abuela, e pela família Fundador, que tem a posse do mítico anel tomado aos bugres do lugar. No cenário úmido de Tremedal, dois irmãos disputam o anel do pai moribundo, em uma irônica repetição da tradição política latino-americana do "dedaço" do dirigente a apontar seu substituto, e lutam, mais ainda, por Helena, a forasteira com o ouvido "mais que perfeito", capaz de ouvir os mínimos ruídos, os sons mais indesejáveis, os mais íntimos. Mas "a velha", a chuva, não chora mais como antigamente, se preocupam os de Tremedal, tratando La Abuela, como muitos preferiam, como alguém de carne. E se Tremedal for um alerta? E se o ciclo interminável de chuva for o bater de asas da borboleta capaz de provocar um tufão no outro lado do mundo? Seria Tremedal a confirmação da metáfora do Efeito Borboleta, criada para explicar como as pequenas alterações são capazes de gerar grandes mudanças? O autor nos conduz a essa reflexão tão atual deixando que seus personagens transitem pelas ruas cobertas de limo da cidade onde La Abuela reina.