Em uma época de blogs, msns e textos fragmentados, Música para quando as luzes se apagam, o livro de estréia de Ismael Caneppele, caminha na contramão. Com uma prosa elegante, que transmite emoção direto na veia e frases construídas sem nenhum pudor, uma história é contada: vinte dias na vida de um garoto de 14 anos, morador de uma cidade do interior, no sul do Brasil. Totalmente confessional, bem ao estilo de O apanhador no campo de centeio, de Salinger, ou Sonhos de Bunker Hill de John Fante, as palavras jorram como se saídas diretamente da cabeça do narrador, expressando sua confusão e questionamento a respeito de si mesmo e do mundo. A trilha sonora de bandas como The Cure, Strokes, Radiohead, Legião Urbana é companheira inseparável dos momentos de reflexão. As letras e as melodias destas músicas fornecem muito mais respostas para seus conflitos do que as conversas com seus pais, figuras alienadas à vida do menino. Ele flana pelas ruas de sua cidade, experimentando, observando, saboreando a noite e vivendo experiências próprias da idade. Passa mal de tanto beber e fumar, chora por se sentir diferente dos outros. Acompanhamos seu tédio com a escola, seu primeiro baseado, o desejo pelos amigos, o mistério da sexualidade ainda confusa. Impossível não rir diante do relato de sua ida à locadora para alugar seu primeiro filme pornô. Difícil não se emocionar com a descrição de um domingo melancólico com os pais, a sensação de distância e solidão que se estabelece entre eles, a falta de diálogo. Música para quando as luzes se apagam é um livro honesto, sem firulas, que não se preocupa com didatismos ou hipocrisia. Fala de amizade entre meninos, de masturbação e de desejo sim, mas com uma quase inocência, em seu estado mais puro, livre de qualquer julgamento, de uma maneira poética e comovente. Muito mais do que sexo, drogas & rock n’roll, é uma história de e para adolescentes, escrita com uma visão profunda e madura de todas as besteiras e encrencas que todos nós cometemos ao percorrer o caminho inevitável que separa a infância da vida adulta.