A leitura do original deste 45 dias apresentou-se-me como um desnudamento interior que raramente se encontra. Uma admiração que se torna amor e depois paixão. Uma expectativa que presume a felicidade que não vem e a catástrofe derradeira. Tudo isso inteligentemente distribuído e dosado na arquitetura de um diário. Chamaram-me a atenção dois momentos da narrativa: o primeiro, quando o personagem reflete sobre não ter filhos: Não tive filhos. Tenho dois cachorros, que não se embriagam, não usam drogas, não me contestam e não me fazem perder o sono, ao contrário, são os meus guardiões. Eles suportam o meu mau humor. Bons meninos! O segundo momento ele descreve a sensação que teve no tão esperado reencontro com Luísa: Depois do primeiro direto, igual no boxe, ela continuou acertando cruzados em minha cabeça, que virava atordoada. Lábios cortados, supercílios abertos, olho acanhado, hematomas, o nariz quebrado. No entanto, só o meu coração é que sangrava. São quarenta e cinco dias nos quais se alternam os sentimentos de alegria e tristeza, de esperanças e frustrações, de amores e desamores, sem, entretanto, que despontem vestígios de ressentimentos ou de ódios, apenas de resignação. Atitude de quem espera uma dádiva que não lhe é concedida e não uma obrigação que lhe é devida. É o amor além da maturidade!