No dia 1° de janeiro de 2045, um rapaz traído pela noiva caminha pelas calçadas do centro da cidade, molhado da chuva de um temporal de verão. A bermuda e a camiseta que veste estão encharcadas de água. De vez em quando ele pára e sacode o corpo numa rápida trepidação, como se um motor causasse aquele movimento que joga água para todos os lados. Em outra passagem do livro, o mesmo personagem ergue o joelho junto com o antebraço direito, e com as pontas de dois dedos esticados coca Geneticamente a cabeça, acima da orelha. O que é isso? Uma ditadura selvagem que arrasou o país a partir de 2021, transformando os brasileiros em seres muito estranhos... Por isso, o que acontece em Povo Cão, pode chocar os leitores. Mas é justamente esta a intenção do autor. A novela foi escrita muito mais para agredir do que para agradar. Pretende, se não for demasiada c ingênua ambição, sacudir as pessoas com uma advertência, como acontece no filme O planeta dos macacos. Só que neste livro há uma diferença: o humor - que o leitor, se quiser, chamará de humor negro. Cada página de Povo Cão mostra que Amaury Braga da Silva não veio ao público para fazer sermão, mas, uma sátira.