Vivemos em um planeta em que há forte consciência reflexiva sobre a co-presença de diferentes culturas e o fenômeno da tradução é crucial. Infelizmente, a produção científica sobre a tradução não tem acompanhado a sua relevância crescente, e não há dúvida de que é necessária um atenção maior ao fenômeno. Neste contexto, o livro de Maria Alice Gonçalves Antunes se destaca, por várias razões. A primeira é a qualidade do trabalho como um todo: a densidade e pertinência da argumentação desenvolvida, sem perder a elegância e a fluência do texto. A segunda é o alto nível da reflexão teórica. Como exemplo de elaborações bem sucedidas neste percurso, assinalo a problematização da perspectiva da tradução como recuperação da "intenção" do autor. Maria Alice toma como referência básica Umberto Eco, em suas concepções de autor-modelo e leitor-modelo, escapando do foco na subjetividade do eu autoral, e neutralizando a linha de argumentação de uma linhagem de defensores do chamado "intencionalismo autoral", que busca legitimar a tradução a partir das supostas "intenções" do escritor a ser traduzido, que alegadamente forneceriam o "sentido original" a ser "recuperado" na tradução. No que diz respeito a João Ubaldo Ribeiro, a pesquisa envolveu os romances originais e as respectivas versões, e artigos, resenhas e livros sobre ele, assim como depoimentos do próprio. O resultado desta cuidadosa pesquisa é um trabalho que é referência obrigatória de todos os interessados nos estudos da tradução e autotradução.