Em 1944, Karl Polanyi publicou A Grande Transformação: as origens políticas e económicas do nosso tempo, obra em que analisou a estrutura do capitalismo no século XIX a partir de uma tese inovadora, de cariz marcadamente institucional e político: a Inglaterra não fora transformada apenas pela máquina a vapor, nem sequer pelas anteriores expansão do comércio mundial e revolução agrícola; não fora a industrialização per se que desencadeara os processos de conflito e de desorganização social que marcaram o longo século XIX. A miríade de motins, revoltas, movimentos genéricos de protesto, revoluções sociais e ciclos intensos e recorrentes de violência a estes associados e que caracterizaram as eras da revolução, do capital e do império, resultaram também da emergência de um conjunto de propostas intelectuais de Ricardo a James Mill, passando por Marx, progressivamente desenvolvidas no interior de instituições sociais várias, que postularam a prevalência do mercado enquanto forma histórica primordial de organização da sociedade. A Grande Transformação consistiu sim, essencialmente, na extensão do sistema de mercados a todas as esferas da vida humana, cuja lei da oferta e da procura passou a determinar autonomamente a afetação e a remuneração de fatores de produção como a terra (a natureza) e o trabalho (ou seja, a própria utilização da vida humana).