A Editora Globo leva às livrarias O Mundo Acabou, livro de memórias do jornalista Alberto Villas, retratando a infância e a juventude do autor em um Brasil mais inocente e cordial. Deixando de lado uma cronologia rígida, a obra é dividida em pequenos textos, esquetes com lembranças que se prestam a uma aproximação afetiva com os personagens e histórias da época, certamente muito familiares a todos os leitores que viveram no período. Os que ainda não haviam nascido ou eram pequenos demais, vão se deliciar ao conhecer o cotidiano dessa classe média de outro tempo, quando os objetos de desejo eram mais simples, e os maiores temores infantis vinham dos purgantes, fortificantes, e claro do bicho-papão. O livro traz um rico e emotivo panorama da ainda provinciana Belo Horizonte dos anos 60, do Rio de Janeiro - capital artística e comportamental visitada nas férias, da recém construída Brasília. Esse painel inicia-se com uma grande luta, da qual muitos tombaram derrotados: regular o botão de vertical da televisão. É esse o ato inaugural de um livro que capta as imagens sem contudo querer fixá-las em um impossível plano contínuo da memória afetiva. O último capítulo é onde cabe a imagem de toda a família reunida em uma foto, imagem que certamente o leitor vai reconhecer, mesmo que observada em negativo. O cotidiano ganha vivacidade com a descrição de como se absorviam os novos produtos de consumo - discos de vinil, louças que podiam ir ao forno, as químicas mais avançadas para espantar insetos. Os personagens da televisão, da propaganda, e as figuras de carne e osso compunham um imaginário resgatado com humor e criatividade. O panorama de um País em vias de industrialização, o ativismo intelectual e político, o voluntário exílio francês, prestam-se como cenários a um texto leve e fluente, que deixa transparecer o frescor e a inocência resgatadas da observação infantil e juvenil do autor.