A dominação milenar das mulheres pelos homens é um tema mais do que debatido e denunciado de uma forma às vezes feroz pelo movimento feminista. Que esta dominação é relativa e que compõe um intrincado jogo político de interdependências entre mulheres e homens é uma nova polêmica apresentada pela professora Maria Lúcia Rocha-Coutinho. “Tecendo por trás dos panos”, resultado de sua pesquisa de doutorado, parte da afirmação de que esta mulher oficialmente subjugada exerce um poder no espaço a que foi confinada em casa, com os filhos.” O livro discute estas formas despercebidas de domínio exercido pelas mulheres de uma maneira direta, através de ordens, ameaças, pancadas e castigos, e indireta, com chantagens emocionais, sedução e o famoso “jeitinho”. Não se trata, porém, de uma apologia da “força oculta” feminina. Maria Lúcia percebe claramente que este jogo está ainda muito distante de um estado de liberdade. O uso destes poderes subjetivos não é mais do que uma forma de luta contra a dominação aberta dos homens. Não passa ainda de uma tentativa de exercício de liberdade.