Minha música não quer ser sujeito/Não quer ser história/ Não quer ser resposta/Não quer perguntar. (Minha Música - Adriana Calcanhoto). É assim que numa de suas tantas inspiradas canções Adriana Calcanhotto acena com um eu lírico que nos adverte que sua música quer só ser música. Ora, bem sabemos que o esforço de negação só existe quando se choca com a descoberta do que, pretensa ou inevitavelmente, se é. É nesse sentido, na contracorrente da canção, que seguem os artigos deste livro, pois os autores aqui reunidos compartilham do entendimento de que a música, à parte o esforço do artista para separá-la do mundo como obra de arte, permanece intrinsecamente ligado a esse mundo. Pelas perspectivas adotadas, a música serve para pensar a realidade, para tentar compreendê-la de uma forma sensível. Ela é uma fonte privilegiada que abre questões e possibilita responder outras tantas, sem, contudo, encerrá-las. Nosso trabalho foi justamente o de sondar outros tempos e engendrar sentidos a partir dos questionamentos colocados pela música e todo o universo que a cerca e a torna possível: compositores, músicos, intérpretes, produtores... e até censores! Por mais, o que se espera com este trabalho é atestar a validade e contribuir para o campo de estudos que se vem constituindo no Brasil nas últimas décadas. Um campo que, contrariando aqueles bonitos versos, ouve a música como objeto e sujeito da história.