... na ficção de Howard Phillips Lovecraft, apenas coisas inverossímeis acontecem, sem nenhuma referência à trivialidade da vida cotidiana. Nada é por acaso, e tudo o que consta nas suas páginas evoca um sentido ominoso trata-se do Mal, do Pior e do Terrível, confrontando magistralmente o leitor com uma experiência de terror cósmico que perturbará seus sonhos para todo o sempre... Entre os anos 1921 e 1933 Howard Phillips Lovecraft criou na solidão e na pobreza os mitos de Cthulhu, uma das obras mais extraordinárias da imaginação humana. Esses mitos, descritos em várias histórias independentes, das quais O chamado de Cthulhu, que integra este volume, é uma das mais importantes, têm um denominador comum: a ideia de que, antes do homem, a Terra esteve habitada por uma raça inteligente e monstruosa que hoje vive esperando o momento em que recuperará seus domínios. Ninguém, como Lovecraft, fez desse universo narrativo uma presença tão real e terrível, explorando com tanta vivacidade imaginativa os meandros do incompreensível, do inominável, do lado obscuro da existência e da mente humana. Em O horror em Red Hook, como em outros livros, Lovecraft foge das idealizações do Bem e da abominação do Mal, mergulhando seus personagens num mundo de sombras, de sonhos, de pesadelos, para construir uma arquitetura maravilhosa e assustadora de seres que, ao desafiar sua condição mortal, lançam-se a viagens e aventuras à procura do autoconhecimento, da imortalidade, do poder divino, encontrando muitas vezes a própria destruição. É num passado mítico e num tempo indefinido que ele instala boa parte dos cenários e tramas de sua criação. Realidade, sonho e imaginação se confundem e se combinam, produzindo, acima dos deuses terrestres previsíveis, adorados e temidos, outros deuses ainda mais poderosos e aterrorizantes. Ao confrontar a presunção da inteligência humana com o desconhecido e com a miséria de sua íntima fraqueza e ignorância, abre uma janela para esse mundo alucinado, ao mesmo tempo, instigante e sedutor. Ninguém como Lovecraft fez do cosmo uma presença tão real e terrível, descobrindo, como diz Claude Ernoult, a continuidade da função mítica humana.