Comecei a pintar desenhando o mundo modesto que me cercava: meus animais, minha varanda, o interior da casa, retratos de vizinhos. Estudos de observações amorosas das coisas que estimava. Tudo em preparação lenta, porque, graças a Deus, nunca fui habilidosa". Nessa confissão modesta, a pintora Djanira (1914-1979) revela instintivamente a temática de sua obra singular, considerada como uma janela para a arte brasileira. "O povo comum, o folclore, a vida cotidiana, exercem sobre mim a maior atração", costumava afirmar a pintora, dona de estilo característico em assuntos plásticos de inspiração nativa. Corpulenta figura de mulher, meio índia e dedicada à produção multicolorida de temas populares nacionais, ela foi uma autodidata. Profundamente intuitiva, Djanira compôs uma extensa obra de cunho formalista. Rotulada no começo como primitiva e nayf, ela superou as críticas ao pintar motivos alegres e tipicamente nacionais, passando a ser considerada como monstro sagrado e lírico da pintura brasileira. O escritor Jorge Amado, seu amigo pessoal, numa só frase resumiu a essência da artista: "A obra de Djanira é o Brasil".