Com o avanço da medicina, ganhou grande ênfase a divulgação dos esforços que vêm sendo feitos pela ciência na luta contra o câncer. Porém, pouca atenção se dá aos efeitos psicológicos provocados pelo impacto da doença, tão importantes na recuperação do paciente quanto a cirurgias e os remédios.
Este é o terreno explorado por Thales Guaracy em seu mais recente romance, lançamento da Editora Globo. Em Campo de Estrelas, um bem sucedido publicitário descobre em seus exames de rotina um pólipo na bexiga que o fará rever sua vida e tentar recuperá-la, mesmo sem saber até quando. Numa era de incertezas, em que os homens relutam em aceitar e encarar suas fraquezas, Ivan terá de enfrentar ao mesmo tempo o doloroso tratamento e o espectro da morte.
O caminho da cura física passa pelo fortalecimento mental, cultivado no projeto de uma caminhada a Santiago de Compostela com o pai, também preocupado com o tempo, devido à chegada da idade. A viagem a Compostela (o "Campo de Estrelas" do título) nunca se realiza. Entremeada pelas memórias de outra peregrinação com o pai a Machu Picchu, quando Ivan era ainda adolescente, sua batalha contra a doença ganha mistério e suspense com o surgimento de um estranho andarilho, misto de rei inca, mendigo e anjo, que os vigiara naquela primeira jornada. 
Nesse personagem enigmático que une o presente ao passado está sua esperança de obter as respostas para as grandes dúvidas humanas, encontrar forças para superar a doença e aceitar em paz a peregrinação ao verdadeiro "Campo de Estrelas", viagem final de todos nós.
"Um romance sobre o medo e como enfrentá-lo"
Para escrever Campo de Estrelas, Thales baseou-se em muito de sua experiência pessoal. Na longa tradição de autores que levam algo da própria vida para a ficção, ele enfrentou um tumor no período de 1999 a 2001, do qual saiu curado e com a vida renovada. De sua luta contra um pólipo na bexiga, restou a convicção de que o melhor remédio, além do auxílio médico, é o exemplo daqueles que souberam enfrentar a doença e encarar o medo de frente. "A força psicológica é um aliado essencial na luta contra o câncer, tanto para superar o sofrimento físico, quanto para conviver com o espectro da doença durante o tratamento e mesmo depois", diz ele. "Este romance é sobre o medo, como enfrentá-lo, ter e manter a fé no momento em que mais precisamos dela."
Em Campo de Estrelas, ao mesmo tempo em que encontra um relato realista e cru da luta contra o câncer, o leitor é levado aos escaninhos da mente humana. Entre divagações e fantasias exacerbadas pela paranóia, a busca pela fé verdadeira, o amor e família são o amparo no combate à doença - processo em que os instrumentos da medicina nunca parecem suficientes, pelo menos aos olhos do paciente cuja vida está em jogo.
O apoio humano é tão importante quanto uma inevitável revisão da vida, uma mudança profunda de comportamento, provocada pelo maior trauma da doença - a brusca conscientização de que nada é para sempre.  Em Campo de Estrelas, esse conforto se dá na forma da coragem da mãe e no companheirismo do pai, com o qual o personagem Ivan divide traços de personalidade e os mesmos temores.
Mesmo dedicado a um tema de interesse amplo e com valor utilitário, o autor não abandona em Campo de Estrelas o estilo de suas obras anteriores, nas quais as idéias e emoções são transmitidas no ritmo crescente da ação. As aventuras de pai e filho em sua viagem a Machu Picchu e o surgimento do mendigo-anjo perpassam a narrativa do combate ao câncer; presente e passado se entrecruzam para se encontrarem mais adiante, desfazendo o suspense somente no final. 
"Muito se fala hoje em dia no sucesso dos livros de auto-ajuda, mas é preciso lembrar que o romance sempre foi o maior gênero de auto-ajuda em todos os tempos", diz Thales. "A literatura é essencial por trazer a experiência alheia, contribuir para a nossa própria vida, mostrar caminhos e soluções. E faz isso com uma vantagem: a forma envolvente de uma história com amor, suspense, aventura e, acima de tudo, emoção. É isso o que procuro sempre colocar em meus livros", acrescenta ele.