A maior parte deste relato faz menção às minhas experiências vividas como médico, em especial às malsucedidas, com posturas inadequadas, assumidas por mim e por outros profissionais que estiveram ao meu redor. Inevitavelmente remeto o leitor à falsa impressão de que esta é a tônica geral dessa classe, o que não é verdade; a grande maioria dos médicos espalhados pelo mundo é formada por pessoas maravilhosas, que vivem o drama de seus pacientes, sofrendo e chorando com eles a cada momento de sua dor. As histórias médicas com final feliz, vividas ou presenciadas por mim, foram omitidas por uma simples razão: imitei a vida ao escrever, e na medicina ela subestima os bons gestos e subleva o contrário. E não poderia ser de outra forma. Quando escolhemos essa profissão, sabíamos que nela não havia lugar para o erro, pois o que vem após ele é imprevisível; e, na sua consequência extrema, ou seja, quando é fatal para o paciente, ele é devastador para o médico. E é isso que torna a medicina tão árdua e excruciante. Mas, em contrapartida, somente quem já curou uma pessoa teve a oportunidade de experimentar a sensação mais gratificante que alguém pode ter.