Estávamos na primavera de 2000 quando Manoel de Barros, através de uma carta, anunciou seus últimos inventos. Em letra miúda, o poeta declarava ter engenhado três máquinas revolucionárias:" (...) uma manivela para pegar no sono, um fazedor de amanhecer para usamentos de poetas e um platnado de mandioca para o fordeco de meu irmão." Como se não bastasse, Manoel ainda falava de como bernado-árvore transformou-se em passarinho e foi viver no cerrado, em forma de arãquã. Mas a letra miúda do poeta ainda guardava outras surpresas, outras revelações. Manoel havia descoberto o maior dos presentes de Deus: o amor: Emocionado e agradecido com o presente, ele revelava como chegou a passar as mãos nos cabelos de Deus e, entre parênteses, concluía: "Sea gente não der o amor, ele apodrece em nós." Quantas notícias. Quantas lembranças. Quantos milagres estéticos. E agora? Quem haveria de traduzir os delírios verbais de Manoel de Barros? O convite foi feito a Ziraldo, em um momento muito especial.