Um romance de tirar o fôlego: Desde 1986, a palavra "Chernobyl" entrou para sempre no vocabulário do planeta Terra. No entanto, passados mais de trinta anos, poucos conhecem a intimidade daquela tragédia que matou mais de cem mil pessoas e nos deixou sequelas terríveis para os próximos milênios. Quando a Academia Sueca concedeu o Prêmio Nobel de Literatura de 2015 à escritora Svetlana Aleksiévitch, da Bielorrússia, deixou bem claro que o fazia em razão do seu livro "Vozes de Tchernóbil, considerado um monumento ao sofrimento e à coragem do nosso tempo". Pois Ariane Severo, no presente livro, retoma o tema de Svetlana com ousadia, talento e determinação. Trata-se de um romance de tirar o fôlego, onde a personagem-título, Nina, psicanalista brasileira nascida em Moscou da união efêmera de um casal de bolsistas gaúchos, volta à então capital da União Soviética com o desejo de ajudar "pessoas que sofrem com a catástrofe de Chernobyl". Além disso, busca entender o desastre de sua própria vida, através da leitura do diário da mãe, que cativa o leitor desde as primeiras linhas, "quando fala dos poetas preferidos do pai e de suas pretensões revolucionárias". Iniciei e terminei a leitura com certeza de que Ariane Severo conseguiu realizar uma façanha digna dos mestres do romance histórico: recriar os fatos com absoluta veracidade, mas sem nunca perder a ternura, principalmente em relação aos seres humanos mais humildes (e seus animais e plantas) destruídos pela irresponsabilidade dos poderosos. E, mais ainda, faz com que Nina, depois de desvendar a tragédia de Chernobyl, aponte seu dedo acusador para o Brasil de hoje, onde causadores de desastres, como o de Mariana, provam que o crime compensa e que pode se repetir a qualquer momento. - Alcy Cheuiche, Porto Alegre Feira do Livro de 2017