Cintilantes e geniais compêndios da sabedoria de todos os tempos, os refrões ou ditados são populares no sentido mais pleno do termo: há frases proverbiais velhas de séculos e outras nascidas em plena rua há uns poucos dias, saídas da boca, da faísca mental ou da intuição de qualquer um: motoqueiros de capacete encasquetado na nuca, dignas senhoras no shopping center, jogadores de futebol, professoras universitárias, doutores e catadores de papel... Mas, sobretudo, são orientações práticas para a vida, estimulantes e sempre à disposição de qualquer pessoa, como um bom cafezinho tal como acontece com o verdadeiro bem, democrático como ele só. Este despretensioso caderno não chega a ser um compêndio de máximas populares, mas agrupa e comenta alguns provérbios de acordo com atitudes vitais. Fica muito clara, assim, a existência de uma autêntica ética do bom senso, sempre palpitante sob a linguagem coloquial, e a identidade transparente e espontânea dessa ética com a moral natural, muitas vezes reflexo e eco da moral evangélica. E verifica-se também que as irritantes éticas da trapaça (se fosse possível a contradição), escondidas por trás de tantos chavões bem enfeitados, na realidade ressaltam por contraste a presença da lei natural, que continua forte e compacta mesmo depois de bombardeada por todos os ismos dos últimos séculos.