Neste O tráfico de órgãos na poesia brasileira, o segundo volume de uma trilogia poética que se iniciou com Insta fantasma (Urutau, 2021), desde o título o leitor é apresentado a uma imagem o tráfico de órgãos que sintetiza a reificação e radicaliza sua expressão. Se, desde os anos 1980, o tráfico de órgãos assustou, no noticiário, o imaginário brasileiro, hoje se trata de um assunto quase esquecido, deflacionado na nossa infindável lista de preocupações. Gabriel Morais Medeiros recupera esse passado para nos lembrar, com certa nostalgia sadomasoquista o passado/em devastação, que os terrores do neoliberalismo fascista dos dias de hoje já se anunciavam no neoliberalismo vanilla das décadas de 1980 e 1990. O tráfico de órgãos, assim como o turismo de transplante e o turismo sexual temas recorrentes nesta obra, entre outros, são consequências, todos sabem, de um projeto de precarização já antigo, mas que agora se pornografiza. Assim, o poeta assume a posição fetal/passiva ante a (...)