"As duas questões que motivaram a realização desta pesquisa e a redação deste livro foram as seguintes: 1) Qual pode ser o papel da burocracia de Estado (ou pelo menos de um determinado setor da burocracia de Estado) no processo de transformação econômica de um país atrasado em seu desenvolvimento industrial? 2) A burocracia de Estado poderia ter suficiente autonomia ideológica para elaborar um projeto político e econômico independentemente das aspirações e dos interesses das classes dominantes? Para responder a estas questões, muito importantes para o entendimento do processo de industrialização de um país como o Brasil, dedicamos um trabalho ao projeto econômico de um setor do aparelho de Estado brasileiro que teve participação decisiva no referido processo, as Forças Armadas. Escolhemos como faixa cronológica o período 1880-1945, cujo início corresponde ao surgimento dos militares brasileiros como força política e cujo final corresponde à queda da ditadura civil-militar do Estado Novo (regime que colocou definitivamente o Brasil no caminho da industrialização). A nossa análise se concentra em três manifestações militares que aconteceram ao longo do período em questão: o projeto econômico da oficialidade que se voltou contra o regime imperial na década de 1880 e que esteve no poder nos primeiros anos do regime republicano; o tenentismo, movimento revolucionário de jovens oficiais que se voltou contra a ordem republicana oligárquica na década de 1920 e que teve participação ativa no poder nos primeiros anos do governo Vargas; a alta oficialidade do Exército que dividiu o poder com Getúlio Vargas durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945) e que desta forma está entre os primeiros agentes da industrialização brasileira. Este livro deve ser encarado como um instrumento para futuras pesquisas sobre a participação da burocracia de Estado nos momentos mais decisivos da transformação econômica do Brasil. "