"Ainda que viva cem, mil anos, não esquecerei aquele dia em que, deitado no leito miserável da cela B 17, a porta se abriu e dois soldados empurraram um corpo que logo se estatelou no chão de ladrilhos." Assim começa Romance sem palavras, livro de Carlos Heitor Cony, onde o autor de Quase memória conta uma incomum história de amor em meio a eventos marcantes da história brasileira. Beto é um homem solitário, afastado da política, que, no período mais agudo da ditadura, acaba sendo preso, suspeito de participar de ações contra o governo. Ao ver João Marcos estatelado no chão, após uma violenta sessão de tortura, decide ajudá-lo, num ato que irá desencadear uma série de mudanças em sua vida. Fora da prisão, conhece Iracema, uma mulher misteriosa, ligada a grupos clandestinos, que o convence a participar da libertação de João Marcos. Enquanto participa das ações para salvar o ex-companheiro de cela, Beto acaba por se envolver com Iracema, mantendo com ela um caso secreto. Anos mais tarde, no entanto, Iracema se casa com João Marcos, e os três terão de repassar uma história repleta de palavras não ditas e de encontros obscuros que, aos poucos, irá revelar sua verdadeira face. Um aparente triângulo amoroso que, como diz Cony, possui "um ângulo não escrito que anula o trio tradicional, tornando-se um romance sem palavras".