Em Misantrópolis, de Isadora Machado, as epígrafes não propriamente homenageiam. Elas mapeiam ariadnemente o périplo dos passos desnorteados de uma mulher nos logradouros do afeto ora luminoso e sombrio, ora abstrato e nevrálgico, ora desesperado e vibrante. Afeto que, entre a concessão e a resistência, contorna o desejo de estar no mundo para além de um acaso, de um engano: entorna o desejo de fazer-se poema. Por esse ângulo, nas águas profundas de Olokun, nas águas densas do desejo hilstiano, nas águas turvas da palavra glissantiana, nelas meteu seu talento a poeta. Revolver-se nelas, sabe-se, não é um risco simples, anódino É necessária a audácia, mas tentando preservar-se do sorvedouro que é lidar com o desconhecido e indômito daquelas águas de si, do poema, do outro. Disso tratam, de modo rascantemente lírico (não esperem canto de uirapurus, mas de urutaus), os textos poemas em prosa que desanda em versos como marolas, arrepios e polissemia de Misantrópolis. (...)