Este breve e denso livro trata da questão do papel da mulher na sociedade atual. Tema esse amplamente divulgado e pertinente até mesmo para organizações comprometidas com a manutenção da ordem estabelecida. Porém, a análise de Heleieth Saffioti e isso é fundamental procura compreendê-lo em perspectiva histórica; ou seja, o que ela busca analisar é o papel da mulher em uma sociedade de classes, capitalista. A questão de gênero, da opressão às mulheres é tratada como parte constituinte de um sistema baseado na exploração do ser humano pelo ser humano. Gênero, patriarcado, violência parte de dados de pesquisas sobre a violência contra a mulher de fins dos anos 1990 e início dos anos 2000 que demonstram a crueldade e perversidade de uma lógica em que essa prática de alguma maneira está naturalizada. Apesar dos avanços legais em torno dessa questão principalmente com a sanção da Lei Maria da Penha essa é ainda uma realidade para boa parcela das mulheres, o que se agrava ainda mais quando se trata das camadas trabalhadoras empobrecidas. Esse, infelizmente, é um dos aspectos de atualidade deste livro. Heleieth trava um combate no campo teórico, procurando definir os melhores conceitos para se analisar essa forma de opressão. É a partir disso que ela afirmará a relevância do patriarcado como categoria que expressa uma forma de dominação própria das sociedades dividas em classes, em suas diversas fases históricas. Ela permite uma análise que desnaturaliza a submissão de um sexo a outro, ou seja, esta se constitui como um fenômeno social. A perspectiva de que a emancipação dessa opressão não é possível nos marcos de uma sociedade capitalista é de grande atualidade (e necessidade). Em tempos de avanço de uma cultura conservadora em nossa sociedade, é necessário se contrapor a isso tanto no campo teórico quanto prático criando uma cultura emancipadora, socialista.