O ano é de 1992, aniversário 500 do descobrimento da América. Três mortos-vivos provenientes de diferentes lugares, além de um grande espaço de tempo que os separaram em vida, emergem de um rio. Antonio Garcí del Moral ficou na condição de esqueleto desde 1536, igualmente, Chavarín Tirilín juntou-se a ele em 1948 e, por fim, completa o trio o jornalista Diego, morto em 1990. Unidos pela mesma língua espanhola, saem à procura de um sepulcro digno de seus ossos, afim de descansarem em paz. Os Mortos Também Contam, mostra a trajetória de três personagens que, mesmo na condição de esqueletos, travam discussões entre si, confidenciam seus desejos e sentidos que não mais existem mas que carregam como memórias vivas em seus restos de homem. Trocam vivências de épocas distintas, com diferentes costumes e linguagens. Miguel Méndez insere-se na narrativa de maneira sutil como o escritor procurado pelos mortos-vivos para que transcreva suas existências. Desta forma, poderão relatar os acontecimentos, suas experiências e opiniões sobre as lutas de índios e guerreiros espanhóis na conquista das Américas. Sentem-se responsáveis por testemunhar o que ocorreu com os pobres e ignorados que participaram de todo o drama da história, bem como os povos indígenas, suas origens e culturas. O autor constrói um microcosmos que reflete a batalha diária da sobrevivência dos pobres, em contraste com a dos ricos, pois escrevo - diz Méndez - desde a minha condição de mexicano índio, espalda molhada e chicano, num intento de resgatar do esquecimento as línguas nativas das minorias e dar testemunho do sofrimento humano universal. Trechos da narrativa, principalmente as falas do personagem Chavarín Tirilín, são em pachuco, um dialeto originário dos chicanos, mexicanos que migraram para os Estados Unidos. É um linguajar que não possui uma tradução equivalente no português, por isso foi feita uma versão aproximada dessas falas. Um livro criativo e expressivo, o melhor da narrativa do povo chicano. Uma novela clássica e inédita, publicada no Brasil, com a tradução modelar de Claudio Willer.