Em 28 de julho de 1907, André Gide, que se hospedava na propriedade de seu amigo Eugène Rouart em Bagnols-de-Grenade, próximo a Toulouse, encontra um jovem, Ferdinand, filho de um empregado da herdade. Com este, que ele apelidará carinhosamente de pombo-torcaz ramier, em francês em razão de uma espécie de arrulho que ele emitia ao fazer amor, o futuro Prêmio Nobel, à época quase quadragenário, viverá uma noite de êxtase que o fará sentir-se dez anos mais jovem. Arrebatado pelo acontecimento, Gide se lança no relato lírico e minucioso desse episódio, ao qual terão acesso apenas alguns amigos muito próximos, entre os quais Jacques Copeau. Gide volta várias vezes a Bagnols, e se preocupa com o destino de Ferdinand, que morreria em 1910. Seu Pombo-torcaz, no entanto, não seria jamais publicado. Quase um século após haver sido escrito, encontrado recentemente por Catherine Gide em meio aos arquivos de seu pai, apresentamos este Pombo-torcaz, mundialmente inédito e cuja publicação Catherine finalmente autorizou, consagrando a emoção da descoberta erótica, a alegria da cumplicidade, a vitória do desejo e do prazer partilhados, como ela escreve no preâmbulo. No prefácio e no posfácio, Jean-Claude Perrier e David Walker debruçam-se sobre esta insólita peça narrativa e enriquecem a edição com excertos inéditos da correspondência André Gide Eugène Rouart.Guardado entre os papéis de Gide desde o verão de 1947, O pombo é um conto que relata a noite de 28 de julho passada pelo autor em Bagnols-de-Grenade, nas proximidades de Toulouse, na residência do amigo Eugène Rouart e na companhia do jovem Ferdinand Pouzac, com quem vive momentos de grande êxtase. Talvez o caráter demasiado explícito do texto seja o motivo pelo qual o escritor o tenha mantido em segredo; é fato, porém, que o lirismo com que descreve aquela noite seminal vivida em 1947 sobrepujou o pudor e levou a filha Catherine, que encontrara fortuitamente o manuscrito entre os pertences de Gide, a autorizar sua publicação.