Os romances de Wodehouse, porém, não se esgotam no qüiproqüó e na trama hipnotizante. Além da escrita irônica, cheia de tiradas sardônicas disparadas pela língua viperina de Bertie, seus livros são também crônicas de um mundo em desaparição. Daí o recurso, recorrente em seus livros, de situar a narrativa numa propriedade no campo ou no litoral, afastada da cidade em transformação, na qual já não há lugar para uma classe ociosa. Cria-se assim um microcosmo ao qual confluem personagens excêntricas, representantes caricaturais de uma aristocracia que vive seus estertores com graça e glamour. O humor de Wodehouse evita qualquer sombra de melancolia. Embora tenha morrido nos anos 70, o escritor é um representante do entre-guerras, quando a afetação da sociedade vitoriana ainda podia ser vista em chave cômica e não havia sido tragada pelas catástrofes da história. Jeeves é o adorável clichê do serviçal submisso, do lacaio humilhado que prova ter mais nobreza de espírito do que seu patrão num mundo em que ambos - senhor e servo - ainda podiam ter alguma esperança de convívio pacífico.