O livro é um modelo exemplar de pesquisa que relaciona processos de constituição da subjetividade e estrutura social. Se o amor é uma construção social, o racismo também é. A fim de demonstrar essa hipótese, Lia Schucman se eleva aos indivíduos que integram as famílias entrevistadas, dando-lhes voz para que contem suas histórias, o que evidencia como a conexão afetiva, apesar de suas particularidades, é perpassada pelo racismo. A obra é sobre as famílias, mas é, sobretudo, sobre o racismo estrutural, sendo tratado, dessa forma, como um aspecto essencial da sociabilidade, de normalização e naturalização das hierarquias, de lugares e de discursos e que, invariavelmente, penetra nas famílias inter-raciais. Assim, se a discriminação racial é uma relação de poder que se impõe à revelia da vontade consciente dos indivíduos, o amor familiar também se manifesta como uma relação de poder em que a raça é um elemento organizador.