Como ideólogo do desenvolvimento capitalista no Brasil dos anos 50 e 60, Celso Furtado deu voz à burguesia industrial, traduzindo, no âmbito de suas análises e de seu projeto de desenvolvimento, as limitações e as contradições históricas desta classe. A derrota e banimento de Furtado, em 1964, no momento em que o capital monopolista internacional elegia o País como mais um de seus espaços de acumulação e reprodução ampliada, exigindo para isto o aprofundamento dos aspectos antidemocráticos do Estado brasileiro, era a evidência de que a burguesia industrial brasileira, sem nenhuma 'ilusão heróica', tinha feito sua escolha - ser o sócio menor do grande capital externo. A impossibilidade desta camada de levar à frente sua 'revolução burguesa', tão largamente apontada por ele ao propor ao Estado e à intelligentsia o papel de demiurgos da nação desenvolvida, revelava-se em toda sua plenitude, conferindo, inclusive, às pretensões nacionalistas de Furtado um inequívoco 'caráter utópico', que alguns comentadores de sua obra já apontaram.