Com o livro CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO E O ATLÂNTICO NEGRO, Marcos Queiroz nos oferece uma historiografia constitucional atlântica, que permite que a primeira experiência constitucional brasileira seja revisitada pelas insuficiências e silenciamentos das narrativas tradicionais, construídas sob as bases do racismo epistêmico e pelas lentes metodológicas da branquitude. O texto oferece uma chave de compreensão que possibilita o enfrentamento das dimensões constitutivas do racismo na modernidade, os efeitos do deslocamento e da violência sobre o povo negro em diáspora, tomando sua secular capacidade de reexistência como elemento central de análise. Honrando a linhagem de intelectuais negros comprometidos com o tratamento do negro-vida, Marcos Queiroz identifica no medo, na vigilância e na liberdade racialmente marcada os traços fundacionais do haitianismo constituinte de 1823. Trata-se de uma obra de leitura obrigatória, não apenas porque desafia o pacto narcísico da dogmática constitucional brasileira, mas principalmente porque possibilita o fortalecimento de um constitucionalismo ladinoamefricano. Conforme palavras do autor, o temor do Haiti representa a “inscrição da branquidade nas raízes do constitucionalismo brasileiro e estrutura sua identidade ao longo da história, na medida em que permeia e se vincula às narrativas oficiais, às práticas das elites, à reprodução do aparato burocrático, às dinâmicas de controle social, às formas de administração de genocídios e aos instrumentos jurídico-políticos de demarcação subalternizante da raça.