Seria fácil hoje mudar de sexo. A ciência permite modificar a aparência sexual do corpo; o direito em geral não se opõe à mudança de estado civil. Muitos parecem até ver no transexualismo uma etapa lógica na liberação dos costumes, após a da emancipação feminina ou do reconhecimento social da homossexualidade. Mas a retirada da repressão em matéria de sexualidade de modo algum impede interrogar-se sobre uma prática médica que, para responder à demanda, atinge o corpo, o das mulheres ou o dos homens, de maneira irreversível. Por que as conseqüências a longo prazo dessa operação não são colocadas? Por que a sociedade admite isso com tanta facilidade, já que se assusta quando outros tabus estão em jogo: eutanásia, clonagem ou manipulações genéticas? Por que, enfim, já o fato de ser dito homem ou mulher é tão importante aos olhos dos transexuais, o recurso à fala não intervém antes da passagem ao ato hormonal e cirúrgico? A estas questões, um psicanalista tenta aqui responder, isso num dos primeiros ensaios dedicados a este tema na França. O autor retraça a história do transexualismo, analisa testemunhos concretos de transexuais, convoca também o direito e a antropologia. Muito esclarecedora, esta abordagem permite enfim entender melhor o fenômeno, mas também medir seus riscos. Psiquiatra e psicanalista, Henry Frignet dirigiu as duas obras coletivas: Sur l'identité sexuelle: à propos du transexualisme, (Association Freudienne Internationale, tomos I e II, 1996-1998)