Cilene M. Perera traz importantes contribuições para uma leitura mais crítica do Memorial de Aires através do detalhamento de aspectos lingüísticos, de estilo e de composição formal do romance. Uma das principais novidades da pesquisa diz respeito ao estudo minucioso das personagens, considerando suas atuações e ambigüidades na trama e no discurso narrativo do conselheiro Aires, o narrador do romance. Destaca-se o instigante e agudo cruzamento que a ensaísta faz entre as personagens (e suas funções no romance) e o narrador, revelando inúmeras e impensadas semelhanças relativas ao discurso atenuador do Conselheiro. Desmascarando as personagens, tão dispostas à encenação, e o falso senso de diplomacia do velho conselheiro, Cilene Pereira acaba por revelar a outra face da composição machadiana como um subtexto que se dissimula através da sua aparente atenuação. Pela ótica desse estudo, o Memorial surge ao leitor sob um novo ângulo, que o revela possuidor de uma narrativa tão interessante e perspicaz quanto a de Bento Santiago em Dom Casmurro.