Não consigo abrir um livro sem terror: acredito que a literatura mata. Mata como um veneno no sangue. Ninguém se apercebe a tempo de procurar o antídoto. Que, aliás, não existe. Mesmo parar de ler não resolve nada. Infiltrado, o veneno literário torna-se carne da própria carne, a ponto de já ninguém saber quem pensa dentro de si: a ilusão de uma voz original, ou a das personagens que entraram sem pedir licença. (...) Alguns livros convidam a matar. Outros, ao suicídio. Outros ainda, mais subtis, limitam-se a relativizar a morte - meio caminho para morrer. Todos são substâncias perigosas, como os medicamentos. Só deveriam poder ser comprados com receita médica ou atestado de robustez intelectual.